Last Updated on: 9th agosto 2016, 08:18 pm

A decoração faz parte do nosso dia a dia, por isso conseguimos enxergar ideias interessantes em quase todo lugar, inclusive em ambientes de trabalho. Depois de perceber que esses espaços também tinham suas histórias pra contar, decidimos criar uma nova seção aqui no blog, chamada POR AÍ. Além de mostrar onde pessoas talentosas trabalham e como a criatividade pode melhorar a rotina, vamos falar sobre a carreira de cada uma delas… Confira e inspire-se!  

“Minha maior felicidade foi ter descoberto um talento fazendo o que eu mais amo”, revela a designer e ceramista Flavia Del Pra. Apaixonada por cores, formas e estampas, ela encontrou no fazer artesanal um meio de se expressar e externar sua filosofia de vida. A inspiração nunca lhe abandona, pois vem das coisas e dos momentos mais simples, como acordar de manhã e descobrir que o dia está ensolarado. Abastecida de energia e bom humor, ela se dedica a desenvolver peças que atraem o olhar e transmitem essa emoção.

Hoje Flavia é uma referência na área, mas podemos dizer que essa trajetória teve início ainda na infância. De tudo o que aprendeu na época até os cursos que fez no exterior, cada passo a aproximou desse caminho de forma quase intuitiva.

“Em nossa casa sempre teve essa coisa do fazer, e não simplesmente comprar”.

Sua mãe sempre foi habilidosa e costumava construir objetos com as próprias mãos, costurando, pintando, inventando… Esse conhecimento e essa criatividade despretensiosa foram passados aos quatro filhos – ela tem 3 irmãos homens – como um legado invisível, porém impossível de ser esquecido. Como um incentivo a mais, sua mãe a matriculou no SESI, onde teve o primeiro contato com a rotina de um ateliê e foi apresentada a novas técnicas e materiais.

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Ela se formou em publicidade pela FAAP e durante alguns anos trabalhou em agências de propaganda, mas não demorou muito para perceber que não seria feliz naquele universo. Foi então que decidiu passar uma temporada em Londres, experimentando e estudando tudo o que tinha vontade: fez cursos de história da arte, de papel machê, de vídeo-documentário… Assim ela descobriu também a cerâmica e o design têxtil, duas técnicas que a seduziram pela liberdade de criação e suas infinitas possibilidades.

Ainda no exterior, Flavia começou a pesquisar a história da azulejaria, estudando as influências portuguesa e holandesa, além de diferentes formas de produção e aplicação. De volta ao Brasil, passou a desenhar painéis de azulejos com múltiplas estampas que depois se transformariam em uma de suas marcas registradas. Parte desse reconhecimento é consequência do Projeto 100 Muros, desenvolvido ao lado do jornalista Gilberto Dimenstein. Realizado entre 1998 e 2000, o projeto envolveu cerca de 400 pessoas na criação de painéis com o tema “cidadania” espalhados pela Vila Madalena, em São Paulo – foi uma forma de trabalhar a arte no espaço público e de incluir a comunidade nesse processo. Essa ação foi tão inovadora para a época que deu origem a um livro e recebeu um selo da UNESCO.

A partir desse momento sua carreira entrou em ascensão e foi aí que ela decidiu passar mais tempo no ateliê se dedicando a peças diferentes e divertidas, que fugiam um pouco da azulejaria e a permitiam experimentar ainda mais a plasticidade da cerâmica. Muitas parcerias nasceram nesse período e ela acabou expandindo seu olhar para outras superfícies, como vasos, abajures, cúpulas, tecidos… Tudo estava acontecendo.

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Foi nessa mesma época que ela conheceu seu ex-marido, que a convenceu a voltar para Londres e a espalhar seu talento por lá. Em um mês a ceramista já tinha montado um novo ateliê e estava produzindo a todo ritmo, mas as coisas demoraram a decolar, então surgiram algumas dúvidas e inseguranças. “Quando saí do Brasil para morar em Londres, cheguei lá como mais uma designer com um “projeto” e passei meses sem fechar um negócio. Felizmente, depois que o primeiro aconteceu, não parei mais e com isso a confiança voltou”, lembra.

Trabalhar com peças feitas à mão, e que portanto têm um fator de exclusividade e valores diferentes dos objetos industrializados, nem sempre é fácil, porém a recepção do mercado internacional foi positiva – seus produtos foram encarados com respeito e profissionalismo, como todo artesão almeja. Tanto que até hoje ela mantém contatos e clientes na Europa, nos Estados Unidos e na Ásia.

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Tudo ia bem. As peças estavam vendendo como nunca e Flavia estava sendo divulgada em veículos importantes, mas chegou uma hora em que a vida pessoal a levou por novos rumos – foi quando ela tirou um ano sabático para visitar o mundo e pesquisar referências em outros países. Na volta ao Brasil ela logo engravidou e resolveu dedicar-se completamente ao filho por mais um ano, porém admite que essa decisão não foi das mais simples: “No começo é mais difícil, pois o coração está um pouco lá e um pouco cá, então rola uma confusão e culpa. O bom é que depois, conforme eles vão crescendo e vão entrando no seu mundo, acabam admirando o que você faz e isso é muito gostoso”.

“A vida pede suas folgas e paradas. E tudo o que a gente vive se transforma em experiência e fortalece as ideias.”

Agora que o filho já está mais crescidinho (Benjamin está com 5 anos), a ceramista consegue conciliar maternidade e profissão, aproveitando ao máximo os dois lados da moeda. Sua história de autoconhecimento continua e ela não pretende parar de experimentar novos materiais e técnicas, só que dessa vez Flavia já sabe que está seguindo na direção certa.

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Fotos por Rafaela Paoli e Igor Giroto