Last Updated on: 27th abril 2021, 06:26 pm

Essa matéria faz parte de uma seção especial do Histórias de Casa chamada ArqTETO. Nela mostramos casas e apartamentos que são considerados ícones da arquitetura brasileira, como um prédio modernista famoso, uma residência com assinatura ou um edifício que marcou época. Além de revelar como cada morador se relaciona com esses espaços, também valorizamos nosso legado arquitetônico. Acompanhe…

Ela arquiteta, ele arquiteto. A história de Marcela e Pedro começou em uma sala de aula da Escola da Cidade, no centro de São Paulo. Pedro, que até então vivia em Recife, foi transferido exatamente para a mesma turma de Marcela, como se esse encontro já estivesse destinado a acontecer. Hoje, mais de 10 anos depois, os dois compartilham um duplex iluminado em um prédio que sempre admiraram e que fica a poucos metros da antiga faculdade: o Edifício Eiffel, idealizado por ninguém menos que Oscar Niemeyer.

A ligação do casal com essa construção emblemática dos anos 50 era íntima antes mesmo de eles decidirem morar juntos. Além das grandes janelas com vista para as árvores da Praça da República e da própria localização, os dois encaram o prédio como uma aula viva, já que sua arquitetura reúne muitos dos elementos que aprenderam a apreciar, como os traços modernistas, o uso de elementos industriais e os cobogós na fachada. Niemeyer também é uma fonte constante de inspiração, pois ele possuía uma maneira única de projetar espaços que se diferem de todos os outros. Aliás, Marcela gosta de imaginar o que passava pela cabeça do famoso arquiteto enquanto ele desenhava cada detalhe do Eiffel: “É interessante saber que, de alguma maneira, seu desejo influencia a forma que vivemos e nos relacionamos com os ambientes. Isto nos prende e nos liberta ao mesmo tempo”, comenta ela.

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Para eles, morar no centro é encarar diversas realidades diariamente. Pulsante, essa região testemunha todos os dias a correria de milhares de pessoas com diferentes objetivos e perspectivas; alguns estão apenas de passagem, tentando embarcar ou desembarcar em seus destinos, outros estão a passeio durante a noite ou quem sabe simplesmente saindo do trabalho… Com tanta gente e tantas construções ao redor, é impossível não se sentir parte da cidade – do alto do prédio, o coletivo e o individual se transformam em uma coisa só, mas com inúmeras possibilidades.

Na época em que ainda estavam procurando um apartamento para alugar, Marcela e Pedro duvidavam que houvesse alguma unidade disponível no Eiffel, porém havia – o que foi uma bela surpresa. O imóvel não estava exatamente conservado e precisava de reparos, então o casal decidiu fazer uma proposta ousada ao proprietário: eles sugeriram projetar e coordenar uma grande reforma em troca de meses de isenção de aluguel. Com o acordo aprovado, os arquitetos puderam adaptar os cômodos às suas necessidades e ainda economizaram 10 meses de mensalidade.

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Pensando principalmente no conforto e na funcionalidade, os dois integraram a sala de estar à cozinha e substituíram o piso antigo por granilite branco, o que trouxe ainda mais luminosidade aos ambientes do andar de cima. Na área dos quartos, que fica no piso inferior, essa primeira obra foi mais discreta. A planta sofreu modificações para que dois dos quartos existentes virassem uma ampla sala de TV com escritório, porém o outro dormitório foi mantido. Marcela e Pedro até queriam alterar outras coisas, mas a pressa de mudarem falou mais alto. Um ano depois, quando tudo parecia estar no lugar, eles compraram o imóvel.

A segunda reforma é mais recente e teve um ótimo motivo para acontecer: Marcela descobriu que estava grávida, por isso eles precisaram redistribuir certas funções da casa. Os dois quartos voltaram a ser três; um banheiro pequeno foi criado no vão sob a escada; o dormitório do casal virou uma suíte; o lavabo que ficava na lavanderia foi removido e os revestimentos da cozinha foram trocados outra vez. Aliás, esse espaço perdeu mais algumas paredes e ganhou armários novos e uma ilha com fogão que funciona como uma divisória informal no living. Ufa! Com prazo máximo de nove meses de duração, a obra foi finalizada pouco antes de Clarice, filha do casal, nascer.

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Nessa transição, a maioria dos móveis e objetos que os arquitetos tinham antes foi preservada, incluindo uma bancada de ipê desenhada pelos moradores em conjunto com Cláudio Correa, da Marcenaria Baraúna. Essa peça era usada entre a cozinha e a sala, porém não se encaixaria na nova disposição, então ela precisou ser adaptada pelo próprio designer, transformando-se em um longo aparador. A madeira original foi totalmente reaproveitada e o resultado é um móvel leve e funcional, com as medidas exatas para abrigar da coleção de discos de vinil às taças usadas no jantar.

A relação com a cidade, com a família e com a arquitetura é cultivada todos os dias por Marcela e Pedro. Como consequência, seu apartamento é um reflexo de seus principais interesses e de sua visão objetiva e ao mesmo tempo afetuosa. Quer conhecer o restante da casa? Então volta no blog amanhã para ler o Capítulo 2!

Fotos por Rafaela Paoli

CONTINUA