Last Updated on: 29th abril 2021, 03:56 pm
Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.
Guiada por um desejo meio inconsciente de compartilhar a rotina com outras pessoas, a diretora de arte Dárida deixou seu antigo apartamento, onde morava sozinha, para alugar um sobrado dos anos 70 no bairro do Sumaré. Não dá para negar que a rua de paralelepípedos tranquila e arborizada foi um dos atrativos, assim como a possibilidade de olhar para o céu e cultivar plantas e ervas, porém o que realmente a levou por esse caminho foi a chance de conviver com os amigos todos os dias, trocando experiências.
Hoje, alguns anos após a mudança, ela divide o lugar com outros três moradores: Luís Eduardo e Manuel, ambos administradores; e o bailarino Luiz. A casa de 160 m² tem dois dormitórios, uma suíte e mais um quarto que fica na edícula, então todos têm direito a seus preciosos momentos de privacidade.
Na época em que estava procurando imóveis Dárida alugava também um estúdio que lhe servia como escritório, mas coincidentemente o contrato desse espaço estava prestes a acabar. Assim toda a disposição que ela já tinha para trocar de endereço foi reforçada pela ideia de trabalhar em casa e levar uma vida mais econômica e sustentável. Sua intenção era tão nobre que o universo conspirou a favor e em um belo dia ela descobriu a simpática casinha enquanto pegava carona com um amigo. A placa de “aluga-se” não passou batido e em alguns minutos a diretora de arte estava lá dentro conhecendo os ambientes e se apaixonando a cada passo.
Acostumada a idealizar cenários para filmes – que normalmente precisam ser montados em curtíssimo prazo e possuem diversas limitações de briefing – ela quis seguir a direção contrária em sua própria casa, brincando, experimentando e deixando as coisas tomarem forma espontaneamente. Dárida tem um ritmo pessoal oposto ao de sua profissão, ela segue uma rotina mais suave e natural, sem normas e preconceitos, mas com humor e delicadeza. No entanto o trabalho ajudou com o olhar ágil na hora de adequar os móveis aos cômodos e o dom natural para improvisar soluções criativas. Em sua opinião a decoração nunca está realmente pronta e deve permitir erros também, não precisa ser estática e certinha.
Para evitar comprar coisas novas ela reaproveitou quase tudo do apê que ocupava antes e trouxe inclusive o mobiliário que pertencia ao escritório: “Gosto muito de peças duráveis ou com história, restauradas ou não, e prefiro itens antigos, então raramente compro objetos decorativos”. Ela é uma daquelas pessoas que sabe reconhecer o valor das marcas do tempo, dos materiais que já não se encontram por aí, das técnicas de fabricação manuais… Essas diferenças sutis podem passar despercebidas por alguns, porém a seu ver são elas que trazem o humanismo que está ficando cada vez mais raro nos dias de hoje: “Elas nos lembram de como a vida com menos pressa e mais atenção é mais inteira e interessante”.
Em uma casa onde a moradora tem essa forma de pensar, seria impossível não encontrar relíquias familiares. O tapete verde geométrico da década de 70 que fica na sala de TV foi usado por ela para brincar, deitar e rolar quando era criança. Outro objeto que remete à infância é o jogo de chá de porcelana dourada que já está até meio desbotado e foi presente de casamento da mãe de Dárida, há mais de 50 anos. Pendurado em um canto da estante, o vestidinho de quando ela era bebê também virou parte da decoração. Cada item é um pedaço da história de amor ou de humor de pessoas queridas contada através dos anos.
Quando não são herdados de família, os móveis podem vir de outros lugares especiais, de uma caçamba na rua a um bazar ou brechó. Tudo em nome de reduzir o consumo e aumentar a criatividade e a capacidade de reaproveitamento. As gavetas que formam as prateleiras da cozinha são um ótimo exemplo – elas foram achadas em uma caçamba e, após uma limpeza e a aplicação do verniz, ganharam nova função.
Logo que se mudou a diretora de arte investiu no que mais lhe fazia falta: plantas. As primeiras aquisições foram duas samambaias e algumas suculentas, só que agora o jardim cresceu e diversas espécies se espalham pela área externa e pelo peitoril da janela, como orquídeas, lavanda, uma pitangueira pequenina, temperos e até a trepadeira do vizinho, que decidiu invadir o quintal de fininho. Iniciante no assunto, ela está aprendendo aos poucos as delícias de mexer na terra e descobrir as preferências de cada plantinha – seu sonho é ver esse ambiente e o corredor lateral externo todo florido.
Dárida enxerga sua relação com o lar de forma poética, como só quem se conhece muito bem pode enxergar: “A casa é sempre um espaço um tanto reservado do mundo externo, mas que reflete também nosso espaço interno, aquele que a gente vive querendo desvendar, conhecer, aceitar e entender melhor – e que acolhe como nenhum outro. Ela é a expressão desse nosso desenho pessoal em construção”.
Impossível não querer saber mais sobre a vida, a rotina e a decoração desse ninho, né? Então acompanhe o blog para não perder o próximo capítulo da história.
Fotos por Rafaela Paoli
Meu DEUS ! Fico a pensar quantas historias´esta bela casa carrega em seus ambientes: Suspiros de paixões juvenis , alegrias, tristezas , festas … enfim…. que lugar aconchegante!