Last Updated on: 14th maio 2021, 12:33 pm

Kalina e Marcos compartilham um apartamento de 70m² em São Paulo onde construíram seu primeiro lar juntos. Como ambos trabalham em áreas criativas, a decoração é divertida, despretensiosa e incrível – tudo ao mesmo tempo. Praticamente sem paredes, o espaço tem jeito de loft e muitos detalhes bacanas que merecem ser vistos com calma. Confira o Capítulo 1 e não perca nenhuma foto.

… Bem além de um simples discurso de sustentabilidade, Kalina e Marcos realmente acreditam e praticam o consumo consciente. Tanto que grande parte do mobiliário é composta por materiais ou peças descartadas que ganharam vida nova e que foram construídas ou adaptadas pelos dois. Para o casal a reciclagem é um artifício multifacetado: “É boa para o meio ambiente e para o nosso bolso, além de possbilitar soluções únicas e inusitadas para as necessidades do dia a dia.”. Mesmo porque, quando eles produzem algo com as próprias mãos, esse móvel ou objeto acaba carregando uma história especial e daí nasce uma relação afetiva ainda maior com a casa.

Na verdade Marcos sempre se interessou por esse assunto. Quando era criança, ele costumava juntar sucatas embaixo da cama para montar brinquedos improvisados, como naves espaciais feitas com rolos de costura ou pedaços de papelão. Conforme os anos foram passando seu olhar ficou cada vez mais apurado e hoje ele consegue enxergar de longe o potencial de itens improváveis. O designer confessa que é praticamente impossível passar por uma caçamba ou um canteiro de obras sem espiar e procurar coisas que possam ser reutilizadas. Foi assim que ele encontrou as mangueiras de hidrante usadas para criar futons redondinhos que recebem as visitas quando o apê está cheio – reprovadas em testes de qualidade, essas mangueiras iriam parar no lixo se Marcos não as tivesse coletado.

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As ideias de reaproveitamento vão muito além disso. Alguns pallets, que são aquelas estruturas de madeira usadas como suporte em mercados ou feiras, se transformaram em uma base baixinha para o colchão, enquanto um deles virou uma mesa de centro com rodinhas. O estrado de uma cama antiga forneceu as ripas para que eles montassem os cubos que servem como prateleiras na cozinha; uma escada de obra virou apoio para o jardim vertical na parede do quarto; engradados de plástico encontrados na feira hoje são usados na horta da varanda; uma âncora de navio, garimpada em um ferro-velho, transformou-se em um mancebo diferente perto da porta de entrada… São muitos exemplos.

Outras coisas foram desenvolvidas do zero a partir de materiais comprados em lojas de construção: a arara do closet, de tubulações de cobre; o mancebo do quarto, feito de ganchos e roscas de ferro; e a mesa de trabalho, com cavaletes doados por um amigo e uma tábua de madeira. Esse espírito de “faça você mesmo” motivou a ilustradora a estampar a parede da cabeceira com triângulos pretos, todos feitos com tinta e à mão. Os únicos móveis realmente trazidos pelo casal na época da mudança foram uma cama de solteiro, que por um tempo serviu de “sofá”; o carrinho do escritório, que pertencia à avó de Marcos; e uma cadeirinha da infância de Kalina. O restante foram conquistas que vieram depois.

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Trabalhar em casa era um dos objetivos do casal, principalmente porque esssa é a melhor maneira de manter um cotidiano saudável. Além de fugir do trânsito caótico de São Paulo e de economizar tempo, assim eles podem se alimentar corretamente, cultivar suas plantas e ervas sem pressa e também manter uma rotina de exercícios. Vale lembrar que é preciso ter disciplina para não misturar as tarefas do trabalho com os afarezeres domésticos, como cozinhar ou lavar roupa, mas Kalina e Marcos conseguiram conquistar esse equilíbrio, o que significa uma rotina bem mais produtiva e ao mesmo tempo tranquila. Os dois ainda dividem muitas ambições e aptidões profissionais, assim um complementa o outro diariamente, em uma troca constante.

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Apesar de amar o apartamento e todos os objetos queridos que ele guarda, o casal também entende que o desapego faz parte. “Certo dia ouvimos de uma grande amiga a seguinte frase “Qualquer coisa além de mim é bagagem”. Nós nos identificamos imediatamente com esse conceito, pois é exatamente assim que encaramos a vida. Esse apê e os detalhes que o compõe são apenas uma bolha que contém aquilo que é mais importante para nós: nossas histórias e nosso relacionamento.”. Companheiros para toda hora, os dois procuram apreciar cada momento sob o mesmo teto, seja lendo um livro lado a lado, compartilhando ideias ou dançando na sala de estar.

Entre fincar raízes e explorar o mundo todo, Kalina e Marcos ficam com a segunda opção, então morar de aluguel lhes cai bem. Ainda que isso traga uma ou outra limitação, os dois conseguiram transformar o atual endereço em um verdadeiro lar. “Nossa casa é a nossa identidade estampada em um espaço. É um local onde podemos viver e criar livre de julgamentos e máscaras”, resume Marcos. E a gente assina embaixo.

Fotos por Rafaela Paoli