Last Updated on: 27th abril 2021, 06:36 pm

Essa matéria faz parte de uma seção especial do Histórias de Casa chamada ArqTETO. Nela mostramos casas e apartamentos que são considerados ícones da arquitetura brasileira, como um prédio modernista famoso, uma residência com assinatura ou um edifício que marcou época. Além de revelar como cada morador se relaciona com esses espaços, também valorizamos nosso legado arquitetônico. Acompanhe…

Na Avenida São Luís, em meio ao vai e vem acelerado do centro de São Paulo, uma fachada coberta por pastilhas rosa e azuis se destaca entre as demais. Projetado por João Artacho Jurado em 1958, o Edifício Louvre é uma referência na arquitetura brasileira desde a sua criação, quando rompeu com os padrões da época ao misturar estilos. Apaixonados pela região e pela própria proposta do prédio, a designer Ana Elisa e o diretor de cinema e músico Gustavo tiveram o privilégio de encontrar um apartamento no 25º andar desse marco arquitetônico – além da praça Dom José Gaspar e de outras construções icônicas ao redor, os janelões de ponta a ponta deixam a cidade a seus pés.

Mesmo antes de decidirem morar juntos, há pouco mais de quatro anos, Ana e Gus visitavam o centro com frequência para garimpar discos de vinil, conhecer botecos antigos e apreciar o cenário urbano um tanto caótico. Outro ponto que os levou a procurar um imóvel por ali foi a verba que tinham para começar essa nova fase, já que muitos bairros tradicionais, como Pinheiros por exemplo, possuem uma média de preços bem elevada. Além disso, o atual endereço reflete justamente o estilo de vida que o casal buscava: poder fazer tudo a pé, estar perto do metrô, cumprimentar as pessoas na rua, ter acesso fácil a diversos cafés e restaurantes, curtir as feiras de domingo… Aliás, a sensação de descobrir lugares que fizeram parte da construção de São Paulo é indescritível para eles.

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Como qualquer prédio dos anos 50, ou talvez ainda mais, o Louvre tem suas particularidades. Ao todo os apartamentos ultrapassam 300 unidades, sendo que a maioria desses moradores está lá há décadas – ou seja, existem milhares de histórias escondidas por trás das paredes e portas. Para Ana e Gus, essa atmosfera acolhedora de antigamente é uma delícia e pode ser percebida em vários detalhes, do piso de tacos às inúmeras plaquinhas de avisos espalhadas pelos andares. O engraçado é que ao mesmo tempo em que o lado de dentro inspira calmaria, o lado de fora das janelas está sempre agitado e repleto de luzes que nunca se apagam – a poesia está nesse contraste.

Conseguir um apê exatamente no lugar em que queriam não foi a única sorte do casal. Para completar, o imóvel havia sido reformado recentemente, por isso já contava com ambientes integrados, poucas paredes, um piso restaurado e banheiros com acabamentos novos. Eles só precisaram repintar os cômodos antes da mudança e pronto. Como uma tela em branco, pouco a pouco os espaços foram sendo preenchidos por objetos interessantes, achados vintage, livros… Ana e Gus acreditam que aconchego é isso: estar cercado de coisas e móveis que lhes deem prazer de olhar. Aliás, os dois possuem um dom de organizar tudo – até mesmo as baguncinhas naturais da rotina – de uma forma harmônica e confortável que os faz querer usar cada canto.

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Por ter trabalhado com cenografia a designer adquiriu a habilidade, e talvez a mania, de acumular coisinhas, de conchas e pedras a louças coloridas. O que mais lhe atrai são as peças estranhas e com história, como vidros de farmácia, itens trazidos de viagens ou maluquices de mercados de pulga. “Gostamos de casa com tapete, com cortina, dessas que têm cara de vividas, cheias de coisas pra quebrar, samambaias ou plantas espalhadas; daquelas em que você entra e demora até descobrir tudo. Gostamos também de deixar objetos escondidos para os convidados acharem, porque acho legal dividir essas experiências. Recebemos muita gente e adoramos, então assim nos sentimos mais próximos dos amigos queridos que vêm aqui.”, conta ela.

Para definir os elementos maiores, como a mesa de jantar ou a posição do sofá, o casal levou em conta o que desejava que os ambientes tivessem e como gostaria de morar, procurando aproveitar cada ângulo do apartamento. A ponta do living ganhou uma poltrona Eames para que pudessem ler e apreciar com calma a vista excepcional daquele ponto. Com a vontade de ocupar a sala de jantar e conseguir receber bastante gente ao mesmo tempo, eles escolheram uma mesa generosa de 10 lugares. Os aparelhos de som e os discos de vinil, paixão evidente de Gustavo, foram colocados na prateleira principal da sala, com todo o destaque que merecem. Mas esses são apenas alguns exemplos. Por serem caseiros e fazerem bastante coisa dentro do apê, os dois conseguiram equipar os espaços de acordo com as necessidades de cada um.

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Ana saiu da casa dos pais aos 17 anos, então ela já possuía um acervo considerável de peças bacanas com pegada vintage, porém muitas delas eram bem delicadas, herdadas de sua tia ou avó. Enquanto isso o Gustavo tinha seus objetos e coleções mais masculinas, como a guitarra ou os próprios discos. Ao juntarem esses dois universos, eles conseguiram criar uma decoração cheia de personalidade e que tem base no estilo industrial, com o concreto aparente das colunas e os móveis escuros, mas com influências étnicas e boêmias. Até o escritório, que passou por alterações recentes desde que a moradora virou freelancer, revela esse mix de referências: a bandeira de Connecticut enfeita a parede ao lado do pôster de Iggy Pop e do enorme leque vindo de Bali. E tem também a codorna empalhada, comprada em Paris e trazida no avião com todo o cuidado do mundo. São misturas improváveis, do jeito que o casal mais gosta.

Em um lar com tanto para se ver e descobrir, os itens herdados de família são expostos com um carinho especial. Ana é apaixonada pela mesinha de telefone que pertenceu a seu avô Mário e que foi desenhada por Giuseppe Scapinelli, um importante arquiteto dos anos 50 e 60. Gustavo trouxe de seus pais uma luminária que hoje fica no home office e também o tapete que estava com sua mãe desde que ele nasceu – mesmo um tanto desbotado, ou talvez por isso, ele é um dos tesouros do casal. Até um galho de goiabeira vindo da fazenda da família de Ana em Jaú encontrou abrigo sobre o armário da cozinha.

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Mesmo com um leve acúmulo de coisas, Ana e Gus não trocariam nada. Aliás, eles acreditam que uma casa prática é aquela que funciona para quem mora nela, e não necessariamente uma mais vazia ou arrumadinha. Felizes com o que conquistaram e com a rotina de desbravar o centro da cidade, eles sabem que seu apê é um lar porque no fim do dia é para lá que eles sempre querem voltar.

Está gostando do passeio? Então acompanhe o blog porque amanhã vamos publicar o segundo capítulo!

Fotos por Rafaela Paoli

CONTINUA