Last Updated on: 4th maio 2021, 02:29 pm
Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.
Encontrar o apartamento dos sonhos não costuma ser uma tarefa simples ou rápida, porém cada esforço vale a pena quando o resultado atende, ou ainda melhor, supera, as expectativas. A jornalista Laura e o fotógrafo Daniel, pais de um casal de gêmeos recém-nascidos, sabem bem disso. Juntos há oito anos, eles enfrentaram diversos obstáculos na busca por um espaço com potencial, da bolha imobiliária de São Paulo a proprietários com problemas na documentação ou que desistiam em cima da hora – foram nada menos que seis propostas de compra frustradas. Felizmente a sorte mudou e um anúncio de jornal trouxe a solução que os dois tanto esperavam: um apê amplo, com boa localização e que cabia no orçamento.
Como nem tudo é perfeito, o estado do imóvel era um tanto desanimador. Malcuidados e cheios de bagunça os ambientes beiravam o caos, a começar pela área de serviço, chamuscada por conta de um incêndio, e pelo piso de tacos dos anos 70, completamente destruído e irrecuperável. Ainda assim, as vantagens superavam as falhas. Além da medida generosa de 160m², o apartamento tem pé-direito alto e fica no 24º andar de um prédio em Perdizes, o que garante uma vista privilegiada: “Essa paisagem desimpedida foi justamente o que nos conquistou. Conseguimos ver tanto os ícones do centro, como o Copan ou o Edifício Itália, quanto os limites da cidade, como o Pico do Jaraguá, por isso decidimos que valia investir tempo e dinheiro em uma reforma.”, lembra a moradora.
O casal já tinha uma boa ideia do que queria e sabia que a decoração assumiria um estilo despojado, mas para as alterações estruturais eles recorreram à arquiteta e urbanista Lara Figueiredo, cunhada de Laura. Ao longo de seis meses de obra pesada muitas paredes foram removidas ou deslocadas, dando lugar a cômodos espaçosos e iluminados, com poucas barreiras entre si – aliás, as portas de correr que isolam a cozinha e o home office estão quase sempre abertas. A troca de acabamentos também foi um ponto crucial do projeto, já que os materiais originais não puderam ser mantidos. Destaque na sala de estar, o revestimento de tijolinhos de demolição pintados de branco foi uma escolha da jornalista.
Animado com a chance de criar ambientes que refletissem sua personalidade, Daniel entrou de cabeça na brincadeira: “Eu queria ter um apartamento acolhedor e bem pessoal, o que só poderia ser feito com o tempo. Assim, a cada passeio e viagem que tivemos antes ou depois de nos mudarmos fomos acumulando enfeites, louças, fotos e obras de arte. Para nós a decoração é um processo lento e que dura até hoje.”, revela ele.
A estante amarela, centralizada na parede principal, serve de vitrine para essas relíquias garimpadas ou herdadas de família – e não são poucas. O morador exibe com orgulho a câmera Kodak de 1910 que foi de seu avô, um cronômetro de laboratório fotográfico de seu pai, um osso de ouvido de baleia encontrado por sua mãe, uma máquina de escrever que pertenceu à sua avó… Isso sem falar nas coleções de toy arts, corujas, caixas de fósforos e livros de fotografia. Para Laura uma peça especial é a katana afiadíssima feita sob medida por Kiyochika Kanehama, o último fabricante de espadas de Samurai de Okinawa. A jornalista, que pratica kung fu, fez questão de incluir a cidade no roteiro de sua viagem ao Japão apenas para conhecer o lendário profissional. Itens trazidos de Portugal, Nova York, Berlim, Amsterdã e Nepal completam a série de achados inusitados do casal.
Ao contrário da maioria das pessoas, que normalmente tem medo de usar cores fortes, os moradores se arriscaram em combinações pouco óbvias, mas que funcionaram muito bem. Um dos sofás é roxo, o outro verde, as cadeiras da mesa de jantar possuem tons diferentes, a cozinha tem armários azuis e ladrilhos amarelos no piso… ah, e tem ainda o tapete, composto por diversos quadrados multicoloridos. Paredes pintadas – cinza na sala, azul escuro no quarto – criam um efeito tão interessante que Daniel inclusive já usou o próprio apê como cenário para algumas de suas fotos.
Como não poderia deixar de ser, a fotografia é um tema constante na decoração, e não só pelos livros ou coleções. Obras importantes, como um registro do Flatiron Building, em Nova York, feito em 1910 por Edward Steichen ou um retrato divertido criado por Terry Richardson, dividem espaço nas paredes e prateleiras com fotos assinadas pelo morador ou colegas de trabalho. Sua experiência com iluminação também impactou a escolha das luminárias, todas equipadas com lâmpadas amarelas, que trazem aconchego, e foco indireto, para não ofuscarem o olhar.
Pessoal e intransferível, a decoração de Laura e Daniel é uma mistura de tudo o que eles admiram, acham graça e viveram ao longo da vida. “O que mais gostamos no apartamento é que cada peça realmente tem uma história, tanto os quadros quanto os objetos. Tudo conta um pouco da gente, das nossas viagens, dos nossos amigos, da nossa família…”
Fotos por Isadora Fabian
Muito lindo, boa criatividade, ótima combinação e bom gosto nas cores.
Muito bacanas as cores do apê, adorei!!!