Last Updated on: 19th abril 2021, 04:02 pm
Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.
A família de Flavia, arquiteta e moradora de um delicioso apartamento em São Paulo, tem uma história inusitada: sua mãe nasceu em Rabat, no Marrocos, se mudou para a França quando ainda era criança e veio para o Brasil de navio na época em que o bisavô de Flavia trabalhava com borracha em Manaus. Da parte de seu pai a herança genética é polonesa, mas os parentes se espalham pelos quatro cantos do mundo, inclusive Israel. Como não poderia deixar de ser, essa mistura se reflete por todo o apê, nos pequenos e nos grandes detalhes, como os objetos trazidos das viagens que a arquiteta já fez para visitar os familiares.
Faz apenas dois anos que Flavia vive no imóvel, porém sua personalidade está impressa em cada um dos espaços. A reforma, idealizada por ela, durou oito meses e revolucionou por completo os ambientes, antes escuros e subdivididos – como acontece na maioria dos prédios antigos. Sua ideia era criar um layout prático e fluido, por isso os dois banheiros foram posicionados no centro da planta e ao redor deles todos os cômodos se interligam de alguma maneira, seja por meio de generosas aberturas ou vãos fechados com portas de correr. O closet, por exemplo, dá acesso direto à área de serviço, que é integrada à cozinha, que se abre para a sala de jantar e por aí vai… tudo muito iluminado e arejado, como a moradora queria.
Como todo bom arquiteto, Flavia deu atenção especial aos acabamentos e à estrutura original do apê. Após a reforma as vigas que ficaram no meio do caminho foram descascadas para expor a textura do concreto, presente também na parede atrás da estante na sala de TV. “Apesar do quebra-quebra intenso, reaproveitei o máximo que pude da obra. Gosto de itens com história e de reciclar materiais, utilizando-os de outra maneira ou criando uma nova função para eles. Adaptei muitas coisas nesse sentido para economizar.”, resume a moradora, que por sorte descobriu um piso de tacos de peroba rosa intacto sob o velho carpete mofado.
Bem na época em que a arquiteta estava finalizando o projeto seus pais decidiram morar no Rio de Janeiro, então muitos dos móveis usados na decoração do apartamento vieram de sua antiga casa – incluindo o tapete estampado em preto e branco, que ela adora. Peças menores também têm seu valor afetivo, como a luminária pendente em frente à porta de correr colorida do quarto, herdada de uma tia-avó francesa muito querida. Bem no centro da sala fica a poltrona com estrutura de jacarandá, na qual o avô de Flavia passava longas horas descansando ou tomando um aperitivo antes dos almoços de domingo.
Vira e mexe a moradora está mudando as coisas de lugar – deslocando os vasos de plantas, improvisando algo na iluminação, acrescentando novos quadros… as obras, aliás, são em sua maioria assinadas por amigos e conhecidos, como a fotografia acima do sofá, de André Marques Albuquerque, as três imagens emolduradas clicadas por Nina Jacobi e as ilustrações de Bruna Canepa acima da escrivaninha.
Tanto no projeto de arquitetura, onde a busca por amplitude ditou as regras, quanto na decoração, pontuada por peças que evocam memórias, o apartamento de Flávia traz leveza à rotina corrida. Por meio de detalhes simples e únicos, como os adesivos de formigas douradas que passeiam pelas paredes ou o baú transformado em mesa lateral, ela foi capaz de criar um universo só seu, onde referências, objetos de tradição, heranças de família e móveis aconchegantes se encontram em harmonia.
Fotos por Isadora Fabian, do Registro de Dia a Dia
Maravilhoso!
Amei, muito lindo!