Last Updated on: 15th maio 2021, 07:17 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Café passado na hora, pão de queijo quentinho e risadas gostosas de fundo. É assim que as visitas são recebidas na casa de 4 amigos mineiros que vivem juntos em uma vila praticamente escondida num dos pontos mais agitados de São Paulo. O clima pacato e com ar interiorano é reforçado pela arquitetura original da construção centenária, pelas buganvílias espalhadas na rua estreita e pela forma calorosa com que os moradores abrem as portas de seu lar. “É como se atravessássemos um portal no momento em que cruzamos o portão da vila, pois mesmo estando em um ponto de convergência entre algumas das principais avenidas de SP, é possível acordar com passarinhos todos os dias, ter um jardim cheio de joaninhas e ainda ver o pôr do sol mais bonito da cidade”, eles falam.

Marco Túlio é visagista e visual merchandising, e foi ele que descobriu a casinha depois de muita busca. Marden é editor de moda, irmão de Marco Túlio e tão animado quanto. Durante anos eles moraram na Av. Paulista e sempre gostaram da região, mas já fazia uns meses que os dois procuravam um lugar mais calmo para desacelerar o ritmo. “Estava em um processo de ressignificação do meu trabalho, e o próximo passo seria a mudança em minha rotina, meu lar e por consequência minha experiência de viver em São Paulo. Comecei então a procurar um espaço que contemplasse essas questões, um local plural, compartilhado, onde pudéssemos morar e trabalhar de forma criativa e ao mesmo tempo fosse mais tranquilo para se levar uma vida com mais qualidade”, Túlio explica.

A busca não foi muito fácil e os irmãos até pensaram em desistir, até que em um belo dia a casinha os encontrou. Como o sobrado é amplo o bastante para acomodar mais pessoas com todo o conforto, eles viram ali uma oportunidade de ter um lar coletivo, compartilhado com um casal de grandes amigos: a maquiadora Pamela e o designer gráfico Daniel. “Foi uma coincidência muito bem-vinda. O convite dos meninos veio exatamente um mês antes do término de contrato do apartamento onde morávamos. Estávamos acostumados a morar só nós dois há mais de seis anos, mas aceitar a ideia de viver com o Marden e o Túlio foi fácil e hoje estamos felizes por termos topado”, dizem.

Outro motivo importante que levou a essa mudança de vida foi a ‘filha’ de Túlio, Porcelana – uma Border Collie de 1 ano que adorou a ideia de morar em um lugar com quintal, onde ela pode correr e brincar. Aliás, ter espaço para muitas plantas também era essencial, já que todos amam esse contato constante com a natureza. Logo na primeira visita à casa, deu para perceber que ela tinha potencial para abrigar um jardim interno: “Quando abrimos as portas e janelas, tinha luz, muita luz por toda parte, e ela entrava de forma diferente e especial em cada cômodo. Por fim, na edícula havia uma planta Chifre-de-veado enorme, dessas que só se encontra na casa dos pais da Pamela em Belo Horizonte”, Túlio brinca.

Somados, são mais de 70 vasos em toda a casa – nem mesmo os banheiros e quartos ficaram imunes. “Aqui, gostar de planta é obrigatório, rs. Sempre tivemos, sempre amamos. Elas são muito legais de conviver quando vamos conhecendo um pouquinho. Umas são mais resistentes, outras mais dramáticas, mas ficando de olho no sol e não esquecendo da água elas vão se adaptando e a integração no dia a dia fica leve e agradável”, Pamela e Daniel comentam. Algumas são xodós, outras dão mais trabalho, mas eles acreditam que uma única plantinha tem um poder transformador muito grande.

Não parece, mas a mudança dos amigos para a casa é ainda bem recente – faz menos de dois meses que eles ocuparam o endereço e mesmo assim a casa já está cheia de histórias. A proprietária fez uma reforma feliz que respeitou o passado do lugar, então o sobrado foi entregue em ordem para os novos moradores: o piso é de tacos, a edícula tem cimento queimado, o telhado aproveita a luz natural em alguns pontos, a cozinha tem ladrilhos hidráulicos e parede de giz… tudo para preservar o charme de uma casinha antiga.

Outra coisa que ajudou a dar aconchego aos ambientes tão rapidamente foi a junção das peças de todos os moradores. Os móveis de Túlio e Marden eram mais sóbrios e crus, incluindo alguns garimpos de Minas Gerais e itens inventados por eles mesmos, como a estante-escada da sala. “Éramos viciados em família-vende-tudo e na feira de plantas, dois programas garantidos na casa antiga”, Marden lembra. Já Pamela e Daniel possuíam móveis bem diversos e com um viés um pouco mais industrial, com muitos achados, sendo vários de antiquário. Outros objetos, em especial as luminárias e vários dos quadros da casa, foram criados pelos dois. Mesmo com estilos distintos, as peculiaridades de cada um se fundiram de maneira incrível.

Túlio, Marden, Pamela e Daniel estão vivendo uma fase de lua de mel com a casinha, com a vila, com a região… curtindo cada momento. A ideia de dividir uma única casa veio da vontade de compartilhar propósitos e buscar mais leveza. Todas as decisões se dão de forma orgânica, vão acontecendo naturalmente e sempre de maneira colaborativa. Pequenas alterações sempre são bem recebidas e assim a casinha vai tomando forma, com todos compartilhando espaços e objetos de um jeito muito intuitivo. “Talvez o segredo esteja na simples intenção de fazer da casa um ambiente de paz e tranquilidade. Receber com alegria, humildade e café também ajuda. Os móveis, a decoração, o cuidado com os cantinhos e as sensações são importantes, mas isso tudo só tem algum valor real se estes ambientes são vividos numa boa, com respeito e gratidão”. * Quer continuar acompanhando essa história incrível? Então fique ligado no Capítulo 2.

Fotos por Gisele Rampazzo

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