Last Updated on: 16th agosto 2021, 05:59 pm

A região central da cidade do Porto, em Portugal, é repleta de relíquias arquitetônicas. São predinhos e casas antigos que resistem à passagem do tempo e ainda preservam detalhes originais apaixonantes. Há seis meses, o arquiteto Sergio e a designer de sapatos Cristina têm o privilégio de morar em um desses lugares. Sua casa foi erguida em 1910 em conjunto com outros imóveis adjacentes, porém era a que estava mais conservada. De início o casal percebeu que poderia restaurar boa parte da construção, atualizando a distribuição de espaços sem precisar descaracterizá-la, então eles abraçaram esse projeto com entusiasmo.

Felizmente, Sergio e Cristina conseguiram manter muitos dos elementos originais. “Estes detalhes contam uma história e preservam um passado: as paredes da escadaria são pintadas à mão para imitar mármore, e os tetos são em estuque com temas florais”, eles explicam. Antes da restauração, alguns locais apresentavam infiltração e muitas paredes estavam em mau estado, mas por sorte a estrutura principal estava impecável, o que facilitou a reforma. Durante a obra, a cozinha e os banheiros foram reposicionados junto à escada, otimizando as instalações técnicas – isso também permitiu que as salas se voltassem para o lado de fora. “Talvez a alteração mais bonita da casa seja a claraboia. O Sergio conseguiu criar uma obra de arte que à noite reflete a lua e podemos ver as estrelas”, Cristina diz.

Seguindo o conceito original da construção, Sergio e Cristina deram à cada sala uma cor e uma identidade próprias. Inclusive, o casal buscou referências na paleta de tons e materiais que estava em uso em 1910. Na decoração, a história dos dois se traduz por meio de objetos e móveis trazidos dos diversos países em que já viveram, como México e Estados Unidos. “A casa é composta por coisas que gostamos e fomos colecionando em nossas viagens. Há também mobiliário contemporâneo (o Sergio tem uma fixação por cadeiras), assim como itens desenhados e construídos por ele”, a designer fala. Obras de amigos artistas, como Antonio Leal, Julio Dolbeth, Joao Pedro Vale e Nuno Alexandre, JJ Jimenez e Miguel Flor, também entram na lista de peças favoritas dos moradores.

Na sala maior, pintada de verde, a escolha da cor foi intuitiva. Originalmente o ambiente tinha uma moldura de flores no teto, mas foi impossível restaurá-la, então o casal queria encontrar uma maneira de deixar o espaço ao mesmo tempo clássico e contemporâneo. O branco não era uma opção, pois com ele a sala ficaria maior ainda, então veio a ideia da monocromia: do rodapé ao teto, tudo foi tingido do mesmo tom. Cristina conta que o verde torna o cômodo mais acolhedor e ajuda em sua integração com as árvores emolduradas pelas janelas. Não à toa, a vista é uma das coisas que eles mais gostam na sala.

A cor verde aparece novamente no banheiro, pensado como uma espécie de spa privado. “O tema da casa de banho original era a banheira, e o elemento plástico mais marcante eram os revestimentos. Estes dois itens acabaram por influenciar a seleção dos materiais e cores, e também a configuração do espaço. Queríamos que não fosse um banheiro convencional, mas sim uma sala de estar com uma grande banheira para relaxar”, explicam.

Depois de muitos anos vivendo como nômades de país em país, chegou a hora de Sergio e Cristina se reconectarem com suas origens – e nada melhor do que ter uma casa que faz parte da história da cidade e carrega tantas memórias. A inauguração do novo endereço coincidiu com esse regresso a Portugal, então o timing foi perfeito. “Fizemos uma festa onde convidamos todos os nossos amigos que vieram do México, Nova Iorque, Paris, Madrid, Lisboa, etc. É bom ter um espaço onde podemos reunir toda a gente no mesmo lugar”.

Fotos por Alessandro Guimarães

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