Last Updated on: 15th maio 2021, 07:02 pm

A história dessa semana é um pouco diferente. Ao invés de distribuir uma única casa em vários capítulos, vamos mostrar para vocês quatro casas em um só espaço. Como assim? A gente explica: o arquiteto Paulo se encantou por uma construção antiga em Pinheiros, mas a área era grande demais para apenas um morador, então ele resolveu criar uma espécie de mini vila, dividindo o terreno em 4 moradias independentes, mas que se conectam por meio do jardim. O resultado dessa empreitada rendeu belas amizades e um novo jeito de viver. Olha só!

A casa cruzou o caminho de Paulo por acaso. Um dia, andando pelo bairro, ele viu a placa de vende-se e decidiu entrar para dar uma olhada. À primeira vista, o local tinha um aspecto deteriorado, mas dava para perceber que a construção trazia detalhes charmosos e típicos de uma arquitetura bem antiga. Aquilo interessou o arquiteto, principalmente quando ele descobriu que a casa havia sido erguida por uma família de portugueses em 1956 e que com o passar dos anos a própria família foi crescendo e ocupando o terreno como se fossem diferentes moradias no mesmo lugar.

Na época da primeira visita de Paulo, os espaços nos fundos estavam sublocados como ateliês e os moradores se dividiam entre os dois andares da construção da frente. “Quando vi aquilo tudo logo percebi que era o lugar certo para o projeto que havia imaginado. Já tinha pensado em criar algo do tipo, porque adoro a ideia de morar em casa, mas estava em outra maior e não via necessidade de tanto espaço. Além disso, esse nicho de casas pequenas, mas gostosas, é difícil de encontrar, geralmente restrito a vilas ou ruas mais estreitas”, explica. Então ele criou sua própria vila.

Paulo reformou as duas construções existentes, preservando o que elas tinham de melhor e adaptando-as de acordo com as novas necessidades. Ao final, a divisão ficou assim: na casa da frente vivem um casal no andar de cima e o arquiteto Marco no andar de baixo; e na parte dos fundos moram a carioca Renata no térreo e Paulo no piso superior – o primeiro a ficar pronto na obra. Apesar da limitação de espaço, o arquiteto desde o início teve vontade de criar áreas externas para as 4 moradias, pois para ele essa é a grande diferença entre uma casa ou um apartamento. “Nos pavimentos superiores eu removi uma parte do telhado, criando um terraço para cada um deles. As casas de baixo naturalmente já tinham seu próprio quintal, mas eram minúsculos, então demoli alguns trechos para maximizar o espaço”, ele conta.

Na época em que a reforma começou de fato, Paulo estava vivendo fora de São Paulo. Ele foi atrás de paz e natureza em Alto Paraíso de Goiás, enquanto tocava a obra à distância, porém com o tempo viu a necessidade de voltar para acompanhar tudo mais de perto, então deu prioridade ao término da casa dos fundos, em especial o andar de cima, onde iria morar. “Passei quase um ano tocando o resto da reforma morando aqui já. Minha casa é a parte mais isolada, mas o que mais me encanta nela é a forma do telhado, que eu acho lindo”, diz.

Do tempo vivido na Chapada dos Veadeiros, Paulo herdou o desapego material e hoje é menos ligado a peças de arte e design. “Minha cabeça mudou muito, e minha casa reflete isso”, fala. Pra começar, o astral de seu lar está mais para um clima de praia do que de cidade – é até difícil acreditar que o endereço fica em São Paulo. Segundo o morador, a decoração se criou sem ele nem mesmo tentar imaginar um conceito, foi algo realmente espontâneo. A maioria dos móveis foi desenhada por ele há anos, como a cama, o sofá e o rack. De resto, as peças foram garimpadas em diferentes lojas ou readaptadas de outros endereços. A mesa da cozinha, por exemplo, pertencia a seu antigo escritório e as cadeiras vieram de Alto Paraíso.

Objetos feitos à mão também se espalham pela casa e reforçam o ar meio praiano, meio rústico. A coleção inclui um tronco de madeira usado como criado-mudo; uma luminária de macramê feita por uma amiga; um cajado trazido da África; um tapete de palha colado na parede… fora outras lembranças queridas, como pratinhos de parede de Londres e o pôster de um ilustrador russo que é uma relíquia de família.

Além de Paulo, a casa tem outro habitante que não pode ser esquecido: o gato Benjamin, que é um grude com ele, mas costuma se refugiar das visitas em um sótãozinho criado pelo arquiteto sobre sua área de trabalho. “No fim do dia, ele desce para ficar comigo até eu dormir”, Paulo diz. No terraço, as plantas vão tomando as paredes aos poucos, em uma mistura meio bagunçada que deu certo – é assim que o morador gosta, tudo junto sem regras.

Compartilhar o mesmo endereço com tantas pessoas é uma diversão para Paulo. “Para quem trabalha em casa como eu, acho muito gostoso, porque me sentia um pouco sozinho onde morava antes, isolado do resto do mundo. Aqui sempre tem alguma coisa acontecendo – um trabalhando, outra recebendo um amigo no almoço ou fim do dia… quando um está de ressaca tem outro animado bebendo… tem briga de casal, fofoca de empregada, um agito. Como descreveram dois amigos meus, é algo entre a vila do Chaves e um cortiço hipster”, ele brinca. * Amou e quer conferir as outras três casas? Então vem com a gente!

Fotos por Isadora Fabian, do Registro de Dia a Dia

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