Last Updated on: 24th fevereiro 2021, 06:30 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio.

Há três anos, a artista têxtil e cientista social Telma e o fotógrafo e pesquisador Pedro se mudavam para o apartamento térreo de 200m² em que vivem hoje no bairro de Pinheiros. Na época, o imóvel estava bem detonado, mas logo de cara eles conseguiram captar todo seu potencial, afinal, o lugar atendia bem aos requisitos que o casal tinha em mente: a proximidade com algum corredor de ônibus ou metrô, a possibilidade de ter um jardim amplo, e um espaço adequado para o atelier de Telma, onde ela pudesse espalhar a bagunça, acumular referências e dar vazão à criatividade.

“Como estava malconservado, a corretora da imobiliária fez mil ressalvas antes de nos mostrar o apê, mas quando entramos nele, sentimos que seria ali que construiríamos morada”, conta Pedro. A reforma precisava ser completa, e o casal não só aceitou o desafio, como participou ativamente de todo o processo. Durante a obra, uma amiga ficou responsável pela planta de demolição, e a partir disso os dois coordenaram sozinhos o andamento de tudo, organizando o cronograma de fornecedores, controlando preços e buscando referências. Na etapa de acabamentos, Telma se dedicou integralmente ao acompanhamento do que acontecia e chegou até mesmo a arregaçar as mangas para se juntar aos trabalhadores.

Toda a parte de hidráulica e elétrica precisou ser refeita; a separação entre a cozinha e a sala foi demolida; o lavabo mudou de posição; e o antigo quarto dos fundos deu lugar a uma despensa. Entre tantas mudanças, o jardim foi definitivamente a mais chocante: “Não havia nada ali, apenas um cimentado com um ralo de banheiro no meio. Não tivemos dúvida em aumentar a área permeável e criar um clima de quintal”, diz o casal. Como os dois cresceram vivendo em casas, a presença de um espaço verde era importante para construir o lar que tanto desejavam. Não à toa, 40m² do apartamento foram dedicados para isso.

Na rotina, essa relação com as plantas é a de dar e receber. Apesar de Telma ser a jardineira oficial da casa, os cuidados estão diretamente ligados ao modo de vida do casal. A terra, por exemplo, é fertilizada com o húmus e o líquido da composteira que eles mesmo cuidam, por isso, os hábitos de convívio e alimentação refletem também no bem-estar do jardim. Em troca, o quintal os presenteia com momentos de contemplação, descanso na rede e até oferecendo jabuticabas frescas direto do pé.

A decoração foi acontecendo aos poucos, com a linha guia de valorização de elementos de casas brasileiras. “Privilegiamos materiais como cimento queimado, ladrilho hidráulico, cobogós e piso de madeira de demolição nos quartos. Além disso, optamos pelo branco nas paredes para que pudéssemos ocupá-las com arte nacional e latino-americana sem carregar muito”, contam os moradores.

Apesar de não gostar muito de expor seus trabalhos em casa, Telma abre uma exceção para seu bordado de raízes, que guarda na sala de jantar, apoiado no piano de seu pai. Para ela e para Pedro, a peça os relembra sobre conexão com suas ancestralidades. O apartamento, aliás, é cheio de memorabilias e itens com significados, como um baú que está há muito tempo na família de Telma ou o tapete trazido da Turquia pelo irmão de Pedro anos atrás.

Para o casal, o lar é pensado para ser uma expressão coletiva e individual, por isso um local amplo cumpre bem a função de organizar seus objetos e memórias permitindo sempre o contato com itens especiais e com eles próprios. Além disso, o piso térreo traz uma sensação de casa que deixa tudo ainda mais gostoso. “A melhor parte é poder colher frutas no quintal, balançar na rede embaixo da sombra de árvores, afofar os canteiros de terra e até ter espaço pra fazer trabalhos que fazem mais sujeira, como pequenos projetos de marcenaria”, contam. * Quer continuar o tour por esse apê? Não perca o Capítulo 2 aqui no blog! 

Fotos por Gisele Rampazzo

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