Last Updated on: 18th fevereiro 2021, 02:00 pm

Uma casa e todas as memórias que ela guarda não podem ser resumidas de uma vez só, então por aqui fazemos diferente. Ao invés de concentrar todos os detalhes e fotos em uma única matéria, criamos pequenos capítulos para que você possa curtir essa visita durante vários dias. É só acompanhar a ordem pelo título dos posts e apreciar o passeio sem se preocupar com o relógio. 

Às vezes as mudanças nos pegam desprevenidos, sem que estejamos prontos para elas. Outras vezes, no entanto, elas acontecem no tempo certo, como um passo natural na estrada da vida. Foi essa a sensação da ilustradora Cynthia Gyuru e do fisioterapeuta Joaquim Roxo ao decidirem procurar um novo apartamento. Por mais que gostassem muito de seu antigo endereço, os dois perceberam que seu filho Tom, de 5 anos, estava precisando de cada vez mais espaço, então eles partiram em busca de um prédio com uma área de lazer bacana para crianças e adultos. “Apesar de termos diversos amigos queridos no condomínio antigo, acabávamos ficando cada um em seu apê, pois a parte social não favorecia o convívio”, eles lembram.

Cynthia conta que a adaptação ao novo lar foi fácil: “Mudamos para um lugar maior e, como fizemos reforma, tudo foi bem pensado para melhorar nossa qualidade de vida. Estamos adorando Perdizes, que lembra muito a Pinheiros de 10 anos atrás, quando me mudei pra lá. O Tom ama a parte social do prédio, com piscina, quadra, sala de jogos, horta e bastante espaço para correr. Ele já fez vários amigos”. Outro ponto a favor foi que a ilustradora também tinha duas amigas vivendo no mesmo edifício – a diretora de arte Guta Carvalho e a arquiteta Adriana Benguela – e ambas foram só elogios. “Sempre que passava na frente desse prédio eu ficava admirando os janelões da sala. E desde a primeira vez em que entrei no condomínio de fato, saí com a certeza de que queria morar lá”, Cynthia lembra.

O prédio parecia perfeito, mas o apartamento que seria de Cynthia e Joaquim, por outro lado, estava largado e carente de manutenção. A parte elétrica e hidráulica precisava de renovação, e além disso o casal planejava remover paredes para integrar os cômodos, então eles resolveram aproveitar o gancho e reformar tudo. Os principais desejos da família incluíam transformar um dos 3 quartos em ateliê, conectar a cozinha com a sala e criar mais armários. Tudo isso guiou o projeto de arquitetura tocado por Teresa Mascaro, cujo trabalho a ilustradora acompanhava pelo Instagram. Cynthia se identificou com um traço recorrente nas obras de Teresa, que é a valorização da memória dos lugares, sempre com a preocupação de manter características originais dos imóveis ou usar materiais que remetam ao período da construção.

A cozinha é um dos principais ambientes do apê, por isso cada escolha da decoração foi feita com carinho e cuidado. Após retirar a parede que dividia o cômodo com a sala, Cynthia e Teresa bolaram uma marcenaria leve, prática e atemporal. O piso original de granilite clarinho ganhou uma moldura na cor rosa para disfarçar o trecho onde a parede foi removida e a janela antiga foi substituída, assim como a porta da área de serviço. Para reforçar a iluminação natural, mas ao mesmo tempo trazer o perfume nostálgico que a moradora queria, foram usados vidros martelados e aramados. “Esse foi o lugar mais desafiador de toda a obra. Sabíamos que a cozinha era um elemento chave e tínhamos que deixá-la tão ou mais interessante do que a sala. Tentei pensar em uma mistura de peças, cores e materiais que trouxesse algo dos anos 60 e 70”, Cynthia diz.

Outro detalhe muito especial do espaço são os azulejos na cor rosa que formam um barrado sobre as bancadas, desenhados um a um pela própria moradora. “O barrado das montanhas saiu de uma série que fiz chamada caminhos: são montes de diversos tamanhos e os caminhos possíveis entre eles; representam as diferenças das trajetórias das pessoas; as escolhas; o percurso de cada um. Para sempre nos lembrar que temos infinitas possibilidades a seguir. No outro barrado fiz explosões de brilho. Porque gente é pra brilhar, ainda mais na cozinha, com calor, afeto, alimento e aconchego”, ela explica. Sobre a janela, a prateleira de pinho de riga foi feita pelo pai de Cynthia e é mais um objeto de afeto muito importante, onde diversas memórias se encontram.

Como a família veio de um apartamento onde eles já tinham muitas peças, foi tranquilo adaptar tudo ao novo endereço. “Essa casa é maior que a anterior. Achei que fosse ficar meio vazia e que precisaríamos de mais moveis, mas surpreendentemente tive que comprar uma única peça: minha mesa de trabalho. Muitos itens ganharam funções novas. No final percebi que a casa antiga tinha coisa demais, era bem apertada. Essa mudança trouxe um novo jeito de morar, com mais respiro e espaço de circulação”, ela conta.

Cynthia é bastante ligada aos objetos e às memórias que representam, então ela fez questão de preencher cada ambiente com as peças mais queridas da família. A hélice de madeira, por exemplo, foi de um avião de seu pai, que era aviador. “Gosto de itens antigos, que carregam histórias. Então ela é uma lembrança linda do meu pai que já faleceu. Dele também são as prateleiras, cabideiros e mesas de pinho de riga, sua madeira favorita”, a artista fala. A lista de tesouros é grande, incluindo um vaso de porcelana de parede e 4 tapetes herdados de um tio do Joaquim, um colecionador de antiguidades que os trouxe de Damasco.

As plantas eram indispensáveis na casa nova, até porque no antigo apartamento o casal tinha uma floreira onde as gatas, Jasmim e Fagulha, adoravam ficar, e eles queriam proporcionar algo parecido a elas. Como a sala tem uma boa entrada de luz natural, logo veio a ideia de montar um jardim de vasos nessa área mais iluminada. Cynthia diz que o jardim ainda tem espaço para crescer, e por ora eles estão testando que espécies funcionam melhor ali. “A temática botânica é presença constante no meu trabalho, amo desenhar e pintar plantas. Nesse apê, acabei assumindo a responsabilidade por elas, que antes era do Joaquim. Cuido das regas, tiro folhinhas secas e vou procurando o melhor lugar para cada uma”.

Na maioria das vezes, Cynthia não precisa buscar inspiração – é a inspiração que a encontra por toda parte. Feirinhas de antiguidade, por exemplo, estão entre seus passeios favoritos, mas às vezes até um filme, uma música ou uma exposição podem trazer novas ideias. E tudo isso é aplicado em sua casa e em seu trabalho de forma natural. * Quer saber mais sobre esse lar? No Capítulo 2 tem a continuação do tour, não perca!

Fotos por Nathalie Artaxo

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