Last Updated on: 26th novembro 2019, 05:15 pm
No apartamento de Felipe Morozini, a arte urbana se mistura com a natureza, o caos da cidade é suavizado pela leveza do branco e até a pressa se dilui em meio à decoração divertida, ao mesmo tempo nostálgica e contemporânea. Esse contraste tão característico é o resultado de mais de 20 anos vivendo e criando arte no centro de São Paulo, com a vista diária para o Elevado Presidente João Goulart, conhecido como Minhocão – uma via expressa elevada que liga o centro da cidade ao bairro da Barra Funda, na Zona Oeste.
Desde sua inauguração, em 1971, o elevado se tornou um tema polêmico para os paulistanos. Se por um lado ele foi construído para facilitar o trânsito de veículos, por outro, moradores e especialistas questionam seus aspectos negativos, como a poluição do ar, visual e sonora. “Morar na frente do Minhocão é uma experiência única. Ela traz transtornos no sistema nervoso e respiratório, por conta do barulho e do monóxido de carbono em excesso, mas ao mesmo tempo é maravilhoso tentar transformar esse espaço em uma outra coisa. A possibilidade de ressignificar é gigante aqui”, conta o fotógrafo.
Foi por viver nessa região que Felipe sentiu uma necessidade pessoal de estudar e se aprofundar em temas urbanos, o que o levou a viajar o mundo para procurar entender o funcionamento de cidades sem a dependência dos carros e o que São Paulo poderia aprender com elas. Foi também por experiência própria que Felipe se envolveu com a associação Parque Minhocão, que defende a transformação do elevado em um parque urbano, com plantas, espaço para esporte e atividades culturais: “É uma luta política, artística e social. Diariamente estamos engajados em todos os pilares para que a transição aconteça de forma pacífica”, ele conta.
Atualmente a via expressa é aberta para carros durante os dias de semana, mas tem as noites, os sábados e os domingos reservados para o uso de pedestres, que ressignificam o espaço com caminhadas, passeios com os pets, música e arte. Para Felipe, o aumento das horas de lazer no Minhocão foi uma conquista importante, mas o principal desafio é fazer as pessoas entenderem que a cidade não precisa do elevado aberto para carros e que transformar o lugar em um parque beneficiaria a todos os moradores do centro e arredores.
Por meio de frequentes intervenções urbanas e artísticas, Felipe explora não só os limites de seu apartamento, mas também atua nas ruas da região, criando obras em paredões dos prédios e até no concreto do próprio Minhocão. “Isso representa um ponto, como em uma acupuntura urbana, um momento de respiro, a possibilidade de requalificar um espaço através da arte”, ele diz. Apostando no potencial de transformar por completo esse local e, dessa maneira, incentivar outras melhorias na cidade, o fotógrafo não tem medo de sonhar alto: “No futuro, imagino o Minhocão cheio de pessoas, com alta atividade cultural e social, muitas plantas, borboletas e pássaros”.
Fotos por Rafaela Paoli
Parabéns pela luta! Tomara que nosso povo acorde para as questões ambientais, ecológicas e de qualidade de vida também para as grandes cidades! Carro demais é coisa de país atrasado! Há tantas opções de mobilidade nos grandes centros, é preciso mostrar as opções e reeducar a sociedade! Eu não tenho carro e resolvo tudo no meu bairro, caminhando e com qualidade, apreciando tudo e vendo melhor! Sucesso!
Acabaram com essa avenida a querida São João – a do Caetano e a de todos nós.Essa obra degradou a ex-Cinelandia, deixou um aspecto de sujeira, tudo muito feio. Parque Minhocão. ” Luta política e social” não. Sou favorável que ele seja desmontado. As vigas vai dar um bom lucro para a Prefeitura, a Cidade de São Paulo vai respirar. Tenho dó de quem mora próximo. Parque – quem vai cuidar, quem vai cuidar…a quem interessa…Abraços
W
Wanda, concorda plenamente. Essa visão “idílica” mostrada nessa matéria destoa do real. A realidade: um gravíssimo problema social e de saúde público nos baixos do Minhocão; uma produção de poluição ininterrupta que acaba com a vida das nossas famílias que moram ao lado do Elevado; e, nos dias em que ele é fechado para carros, um novo suplício: pessoas (e eventos!!) invadindo o pouco que resta de nossa privacidade. Mudei para um apê ao lado do Minhocão antes dessa polêmica e de cogitaram um “parque”. De lá para cá, minha saúde física e mental só piorou. Nós moradores pedimos somente um pouco de empatia de quem caminha sobre o Elevado e reivindica esse absurdo parque. E quanto o Felipe Morozin, ele não mora exatamente ao lado, mas está num andar alto. Aí fica fácil, né.
Felipe você é maravilhoso, vocês irão conseguir! Árvores, pássaros e borboletas! Que sonho! Sonhe e realize❤️
:)❤️