A vida em muitas cores | Capítulo 2

Last Updated on: 7th maio 2022, 08:31 pm

A história dos franceses Brune e César começou quando eles se conheceram durante seus estudos na Europa, pelo programa de intercâmbio Erasmus. “Foi nas bancadas de nossa escola de arte que nos encontramos no último mês de nossos 5 anos de estudo. E desde então nós nunca deixamos um ao outro”, contam. Com o tempo, a caminhada dos dois foi se entrelaçando cada vez mais: a viagem ao redor do mundo ofereceu um novo lar em Lisboa e a família cresceu. Agora, o casal tem três filhos pequenos que perambulam pela casa e deixam o cotidiano ainda mais alegre do que as cores primárias escolhidas com certo destaque na decoração.

O apreço pelas cores é algo inato de Brune, como a própria moradora diz. E é possível perceber que todos os cômodos do apê possuem algo bem colorido ou combinações ousadas, exatamente do jeito que o casal gosta. Quando chegaram no imóvel, algumas alterações foram feitas: “Reunimos três pequenas salas para fazer uma grande cozinha, com sala de jantar, estar e até jardim interno. Nós também movemos o banheiro e criamos a escada que acessa o sótão a partir da entrada”, explicam. Além disso, um antigo banheiro virou o cantinho para guardar casacos e duas portas deslizantes de madeira foram criadas para modular o espaço entre os quartos.

Ao chegar na sala de estar, é possível sentir a expressão artística do casal em cada detalhe. As molduras antigas no teto convivem com tecidos garimpados que viraram cortinas, enquanto a estante inspirada no trabalho da arquiteta e designer francesa Charlotte Perriand carrega tanta história quanto o espelho extenso com uma trinca escondida. “No início, eu havia projetado uma estante integrada na parede com uma porta de madeira deslizante. Só que quando recebi o orçamento para essa peça, eu me perguntei se, com a mesma verba, eu não deveria ter a estante dos meus sonhos! Resultado: projetei o móvel com as cores que eu gosto e baseada na obra de Perriand”, conta.

Em todos os lados onde o olhar pousa, há um item com história para contar. E parte disso se deve ao gosto do casal – principalmente de Brune – pelas peças de segunda mão encontradas em viagens e também em Lisboa. O espelho, por exemplo, vem de bem antes da Brune se imaginar morando fora da França. Trazido da casa de seus pais, pessoas muito especiais que ela perdeu ainda jovem, o objeto ganhou um novo olhar ao longo do tempo: “Ele partiu em dois durante uma mudança. Todos me disseram que eu não poderia ter um espelho trincado em casa, mas não queria substituir o original”, lembra a moradora. Então, ela teve uma ideia para manter o objeto em casa: “Fiz uma espécie de ramo de cerâmica que segue e cobre a fenda, como se a natureza estivesse tomando conta do espelho… Achei o simbolismo muito bonito: depois de cada ferida, renasce a esperança e a luz”.

Sem dúvida, a casa é uma constante renovação de energias, especialmente com a presença dos três filhos. O sótão se tornou o espaço particular das crianças, com banheiro para que elas tenham autonomia e “camas de cabine”, como Brune costuma chamar, para estimular as particularidades de cada um. “É uma grande área comum para brincar, mas cada um com sua intimidade. Lá em cima, eles fazem o que querem!”, diz a mãe. Porém quando todos se reúnem, é a sala que vira o ponto de encontro principal: “As crianças adoram quando jogamos algum jogo de tabuleiro na mesa da sala de estar ou temos uma noite de cinema no sofá-cama enquanto jantamos. Colocamos uma grande toalha de mesa no sofá e fazemos um piquenique enquanto assistimos a um filme”. Dessa maneira, os pais equilibram a rotina de trabalho durante o dia com os momentos em família durante a noite.

E quando a ideia é descansar, César e Brune encontram um aconchego particular no quarto. “Este foi o único lugar onde colocamos fotos das famílias um do outro: bisavós, avós, pais jovens e nós crianças. Na verdade, nós ainda somos crianças grandes!”, brincam. E realmente, a força da expressão dos dois nos móveis escolhidos e o uso de cores sem medo por toda a casa revela que o casal está sempre alimentando a criança interior que existe dentro deles, ávida e curiosa pelas possibilidades que o novo apresenta. Para tudo isso fazer ainda mais sentido, os filhos são um termômetro e ajudam a definir o que é um verdadeiro lar: “O fato de este apartamento ser tão parecido conosco faz com que as crianças nos sintam intensamente! Esta é a nossa marca, o lugar onde simplesmente nos sentimos bem”.

Texto por Natália Pinheiro | Fotos por Gui Morelli