Last Updated on: 30th julho 2024, 04:52 pm

“Quando eu era criança, morava numa casa com muitas árvores, e me lembro que, quando olhava pela janela e via que estava ventando, eu saía correndo para o quintal, subia no último galho de um pé de sapoti e me abraçava nele. A árvore começava a balançar de um lado para o outro e aquilo era o meu parque de diversões”, conta o ator carioca Orlando Caldeira. Algumas décadas —  e endereços — depois, seu apartamento atual ainda dialoga com essa memória: as plantas são um xodó do morador e o janelão com vista para a paisagem do Rio de Janeiro é um descanso para os olhos entre os afazeres da rotina. Não à toa, a sua forma tão intuitiva de decorar tem como ponto de partida a vontade de trazer o clima do lado de fora para dentro, com cores, folhagens e materiais como a madeira e a cerâmica.

Antes de ocupar este apartamento no bairro de Botafogo, Orlando viveu por 9 anos em Copacabana e chegou a morar em São Paulo por um curto período. Ele conta que, ao se mudar para o endereço atual, a sensação de estar em casa não foi instantânea – foi só mesmo após pintar as paredes que ele percebeu que aquele era o lugar certo, onde realmente gostaria de estar. Depois disso, a construção do lar se deu aos poucos e a primeira versão da casa tinha todos os móveis marcados com fita crepe no chão: “Eu preciso ver as coisas na minha cabeça de uma forma muito clara e aí sim elas se materializam e viram aquilo que eu estava pensando”, ele explica.

Apartamento com vista para a praia no Rio de Janeiro tem piso de tacos e decoração com plantas.
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Entre todos os itens da casa, o primeiro a ser adquirido foi o espelho, como uma forma de homenagem à Oxum: “Entrei na loja para comprar o espelho e acabei, de quebra, trazendo o sofá e o rack”. No dormitório, as roupas expostas facilitam a visualizar as possibilidades na hora de montar os looks para eventos e dia a dia; já para o escritório, Orlando escolheu o ambiente com vista privilegiada para o Pão de Açúcar, afinal ele passa muito tempo imerso em seus tantos trabalhos – seja como ator, diretor, produtor, integrante de coletivos ou empreendedor em sua própria marca, a Galo Solto:

“Eu não consigo ficar parado, meu movimento interno é extremamente acelerado e preciso dar vazão para isso. Assim vou criando, vou trabalhando e muitos desses trabalhos precisam acontecer dentro do meu apartamento, que é onde eu preciso ter paz, silêncio e tranquilidade para me desorganizar. Digo isso pois muitos projetos precisam de uma desorganização para poder encontrar um caminho, para sair da minha lógica e ter uma lógica própria. Então a minha casa, mais do que um refúgio, é um palco para exercer tudo isso”, ele diz. Mas é claro que também há espaço para o lazer: “Quando dou festas aqui em casa, o home office se desmonta e vira uma pista de dança, ou mais um ambiente para as pessoas circularem”, conta.

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No dia a dia, seu maior companheiro é o cachorro Deivinho, que ganhou esse nome por causa do filme brasileiro Marte Um, mas as visitas também são frequentes, seja para festejar, tomar um vinho ou até mesmo para reuniões de trabalho: “Eu não consigo diferenciar tanto a minha profissão do meu lazer, eles são a mesma coisa praticamente, e eu uso muito a minha casa pra isso”, conta. Já quando está sozinho, Orlando enxerga a organização do lar como um ritual de bem-estar, que passa pela limpeza dos cômodos e termina com rega de cada uma das plantas. Com tudo em ordem, não há nada melhor do que a sensação de se deitar em sua rede e contemplar a paisagem carioca:

Essa vista tem sido minha oração

Apartamento com vista para a praia no Rio de Janeiro tem piso de tacos e decoração com plantas.
Apartamento pequeno, quarto com plantas e roupa de cama colorida
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Entre todas essas memórias, rituais cotidianos e significados, Orlando encontrou em sua casa mais uma forma de se expressar, criar e comunicar – afinal, é isso que ele faz em tantos âmbitos de sua vida. “Eu comecei a montar esse apartamento num momento em que estava me construindo por dentro e foi um processo muito paralelo. A cada passo que eu dava em direção à minha casa, ela me abraçava com alguma coisa, as minhas conquistas internas reverberavam nas minhas conquistas externas. Hoje eu olho e é muito bonito ver o que construí. A minha casa se tornou um lar porque ela conta essa história junto comigo”.

Texto por Yasmin Toledo | Produção por Dora Campanella | Fotos por Leila Viegas