Last Updated on: 1st agosto 2024, 12:09 pm

Para a museóloga Carmen Dantas e a jornalista Cintia Ribeiro, fazer o trajeto entre as suas duas casas, partindo de Maceió em direção à Ilha do Ferro, é quase como sair de um lugar comum para um universo paralelo. Não no sentido de que a Ilha do Ferro pareça um sonho ou seja irreal, mas sim pela atmosfera tão particular do povoado: lá o tempo passa de outra forma, as relações têm outra dinâmica e o contato com a natureza está em cada miudeza do cotidiano.

Quando estão ali, os dias sempre começam com Carmen se levantando antes de o sol nascer e abrindo a porta para a rua, que só volta a ser fechada perto das 11 horas da manhã, quando o sol fica muito forte e todos costumam se recolher. Ainda de madrugada, Carmen faz sua caminhada e vê o povoado começando a acordar: os trabalhadores se movimentam rumo a seus ofícios e os vizinhos se cruzam pelas calçadas no trajeto até o Rio São Francisco. Quando retorna para casa, a museóloga prepara o café da manhã da esposa, com direito a plantas que colhe no caminho para enfeitar o lar.

Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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A casa aberta faz parte da cultura local, os vizinhos aparecem para dar bom dia, os cachorros entram para explorar e, dessa forma, o senso de comunidade se torna particularmente vivo. O casal brinca que, como o endereço fica bem na região central, o movimento é inevitável e hoje elas até já sabem identificar quem está passando pela rua apenas pelos barulhos que ouvem.

Se hoje Carmen e Cintia vivem dias tranquilos em uma casa que compraram e reformaram juntas, elas se lembram que o cenário era bem diferente quando começaram a frequentar a Ilha do Ferro, décadas atrás: como o povoado ainda não tinha pousadas para turismo, elas se hospedavam em espaços cedidos pelos moradores e se encantavam pela hospitalidade da população. Foi só em 2021 que se depararam com a oportunidade de comprar uma casa ali.

Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.

Na verdade, Carmen chegou na Ilha do Ferro antes de Cintia, em 1983, motivada pelas pesquisas de arte que fazia junto ao fotógrafo Celso Brandão. Na época, eles estavam organizando uma exposição sobre a arte alagoana e buscavam conhecer mais sobre o ‘bordado boa noite’ – uma técnica desenvolvida pelas mulheres do local. Na viagem, os dois acabaram descobrindo a arte do Seu Fernando, o primeiro artesão cujo legado fez com que a Ilha do Ferro se transformasse em um polo de esculturas. Desde então, continuaram visitando a região em todas as chances que tinham, até que Cintia começou a acompanhá-los no início de seu relacionamento com Carmen, anos depois.

Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.

Para as duas, a Ilha do Ferro carrega memórias de quando começaram a namorar e a idealização de uma casa ali proporcionou uma sensação parecida à de uma renovação de votos. Até porque, quando decidiram morar juntas em Maceió, Cintia acabou se mudando para o endereço de Carmen, então essa foi a primeira oportunidade de construírem um lar em conjunto desde o começo. Em contrapartida à casa de Maceió, repleta de peças antigas e móveis delicados, Cintia fez questão de que a casa na Ilha do Ferro fosse mais receptiva à sua personalidade “desastrada”, como se autodefine.

Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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Como ali, muitas casas são conhecidas por nomes e carregam seus símbolos na fachada, o casal escolheu a pirambeba, uma espécie de piranha da região, para nomear o seu lar de forma bem-humorada. As cores azul e rosa também são uma brincadeira com os papeis de gênero e muitas artes espalhadas pela decoração retratam o amor entre as duas mulheres a partir da sensibilidade dos artistas locais, como a Roxinha e o Mestre Júlio Santos.

Por volta das 17 horas, quando o sol começa a dar trégua e a lua já aparece no céu, as portas da casa voltam a se abrir, assim como em todo o povoado, e Cintia leva as cadeiras com as cores do arco-íris para a calçada. Este talvez seja o momento mais sagrado do dia na cultura local, quando todos os vizinhos se sentam do lado de fora e conversam sobre suas vidas.

Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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Casa Pirambeba na Ilha do Ferro com fachada colorida e decoração com peças de artesanato popular.
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Na Ilha do ferro, Carmen e Cintia viram suas vidas transformadas pelo contato estreito com a natureza e pela rotina ao mesmo tempo tão simples, mas tão cheia de sutilezas. Foi ali, bem no centro do vilarejo, que o casal construiu seu refúgio: um espaço que reflete suas evoluções e memórias, onde cada detalhe – desde a escolha das cores até as artes nas paredes – carrega um pedaço de história e um tanto de amor.

Gostou dessa história e quer conhecer ainda mais sobre a Ilha do Ferro? Continue o passeio pela Casa Sibite.

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Felco