O novo apartamento do Maurício Arruda

Last Updated on: 25th outubro 2024, 12:51 pm

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Já imaginou se você tivesse que realizar uma reforma intensa, trocar de endereço, tomar muitas decisões, mudar de ideia (e de imóvel) no meio de uma pandemia… e tudo isso diante de centenas de milhares de espectadores acompanhando os acontecimentos em tempo real? Pois foi assim a trajetória do arquiteto Maurício Arruda até que ele pudesse enfim entrar em seu novo apartamento e sentir: ‘Agora, sim, estou em casa!’

Essa é a segunda vez que o Histórias de Casa visita o lar do Maurício. A primeira foi em 2019 e o apartamento de então era marcado pelo piso pintado de branco, tetos coloridos e uma curadoria especial de móveis e objetos. Hoje, o endereço é outro — e o clima também: 5 anos depois, Maurício define sua nova casa como um espaço mais maduro e corajoso, o que reflete seu momento de vida atual. O branco das paredes deu lugar a um tom de bege que abraça todos os cômodos até o teto, as cores usadas na decoração são escuras e introspectivas, e o apelo artesanal se tornou ainda maior com as cerâmicas e obras de arte popular brasileira espalhadas pelos ambientes.

Nas palavras do morador, este apartamento “tem mais liberdade em relação à vida, sem medo de usar cores, texturas e misturar coisas que vieram de lugares diferentes”. Ainda assim, algumas características nunca mudam: o lar segue como uma extensão de sua personalidade, as ideias criativas continuam fazendo de cada cômodo um verdadeiro laboratório, os garimpos insistem em se multiplicar e a paixão de Maurício pelo design permanece nítida em cada uma de suas escolhas.

Queridinho dos fãs de arquitetura e decoração, Maurício é uma figura que dispensa grandes apresentações: além de ser sócio e head de criação no escritório TODOS Arquitetura, ele foi apresentador do programa Decora durante 5 anos, e atualmente segue a todo vapor com a produção de conteúdo em seu Instagram e canal do Youtube. Não há dúvidas de que seu nome é uma grande referência no cenário da arquitetura brasileira, mas a verdade é que projetar a própria casa foi um desafio e tanto mesmo para ele. Isso porque, sem um cliente estabelecendo limites e vontades, as possibilidades se tornam praticamente infinitas — e Maurício usou essa liberdade para criar uma casa que traduz sua essência sem poupar soluções inovadoras.

Como o imóvel de 260m² é, na verdade, uma junção de dois apartamentos vizinhos que foram anexados pelo antigo dono, Maurício conta que a planta tem algumas particularidades que guiaram suas decisões de projeto. Uma delas, por exemplo, foi deixar a entrada acontecendo pela cozinha — que, por sorte, é um ambiente onde ele ama estar. Para amenizar um possível estranhamento, Maurício manteve o clima do espaço bem social: o piso é de tacos como os da sala, a cor verde predomina nos armários e revestimentos, e o balcão de aço inox tem uma área extra pensada para receber os amigos ao redor do fogão.

Na sala de estar, mais uma curiosidade: o teto não tem nenhum ponto de luz e toda a iluminação é feita por abajures ou luminárias secundárias estrategicamente posicionadas. O sofá vintage preto assinado por Jean Gillon veio do endereço antigo, enquanto a estante de livros foi desenhada pelo próprio Maurício inspirada por um modelo que viu em um antiquário. Na face oposta, a poltrona listrada foi um garimpo, assim como a tapeçaria de Jacques Douchez que, por coincidência, tem uma paleta de cores muito parecida com a da casa.

“As cores pra mim são muito importantes. Aqui eu não tenho nenhuma parede branca, todas elas são pintadas de bege, o que permite que eu consiga trabalhar com tons dos quais gosto muito, que são saturados, mas com iluminação baixa”, ele explica. Em outras palavras, o apê é colorido, mas não de uma forma vibrante ou solar, pois, na verdade, o visual desejado era algo mais vintage e antiguinho. O que nos leva a outro detalhe importante: o Maurício não queria que sua casa tivesse cara de nova.

Eu tenho um apreço maior pelas coisas que têm história

Na área dos quartos, Maurício acabou optando por deixar a suíte para os hóspedes e dormir no quarto que, apesar de não ter banheiro, conta com uma varanda. Mas não se engane — a sacada cheia de plantas é apenas uma prévia do que o andar superior reserva: um terraço paradisíaco com paisagismo assinado por Letícia Bononi. O espaço tem uma grande variedade de espécies nativas do Brasil e várias árvores frutíferas, além de uma bancada para receber os amigos nas horas de lazer.

Aliás, foi justamente para poder apreciar momentos assim que o arquiteto decidiu se mudar do endereço antigo: “Eu tinha o sonho de estar mais próximo da natureza”, ele lembra. No início, Maurício até cogitou comprar uma casa, mas sentiu que, para a dinâmica de sua rotina, um apartamento na região central de São Paulo seria uma escolha mais adequada.

Com um percurso tão longo para chegar até este apê atual, nada mais justo do que se entregar de alma para fazer do espaço um lar que o acolhe e representa. Para Maurício, não são os objetos ou a reforma os grandes responsáveis pelo sentimento de estar em casa, e sim todo o carinho e vontade dedicados por ele em cada etapa de um processo que nunca tem fim. Depois de tantos anos de experiência com arquitetura, através dos quais pôde amadurecer seus próprios gostos e referências, ele sabia que não queria morar em uma casa genérica, então usou toda a sua criatividade com boas doses de coragem para ter um lar que dialoga verdadeiramente com seu jeito de viver.

Texto por Yasmin Toledo | Fotos por Maura Mello